Descrição
Escrever sobre um autor nada tem a ver com encaixar fragmentos dispersos por uma diáspora, para assim reconstruir uma identidade que existia antes do fluxo . Uma obra poética não é um quebra-cabeça a nos desafiar a inteligência para encontrar, sob o diverso, a unidade apolínia da obra. Uma obra poética não é um quebra-cabeça. Por isso, comentar uma obra poética , como ensina Deleuze, é como fazer um retrato em pintura: criamos uma perspectiva de acordo com nossas tintas. Mas é necessário que o retratado esteja ali presente: não aprisionado, mas em linha de fuga, e a possibilitar que o comentário que se faz também seja uma linha de fuga a toda pretensão de verdade última. Essa cautela espinosista vale ainda mais para uma obra poética como esta que Luís Serguilha nos oferece e desafia como singular caleidoscópio. Esta é a imagem que nos guia: ao invés de um quebra-cabeça, um caleidoscópio.
(…) A leitura do livro “falar é morder uma epidemia”, de Luís Serguilha, nos coloca próximos a uma experiência semelhante àquela borgeana. Um livro-fluxo, assim nos parece o livro-poema de Serguilha.
(…) Antes de tudo, a leitura do livro-fluxo de Serguilha é uma experiência que nos põe no limite da própria leitura: como o rio de Heráclito, ele nos desafia a travessia. Entramos e nossos pés não acham o fundo. E quando nadamos até o meio, arrasta-nos a força desterritorializante do texto inaprisionável. A melhor forma de se fazer tal travessia-leitura? Deixar-se levar.
Elton Luiz Leite de Souza [no Prefácio]
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